Foi-se o
tempo em que licença-maternidade era tempo de ficar em casa só cuidando do
bebê. Agora, as mães aproveitam a pausa do trabalho também para investir em
novos projetos e atividades – muitos deles, com o pequeno.
A
advogada Marina Novaes, 32 anos, atua no Centro de Apoio ao Migrante (Cami), em
São Paulo, uma ONG ligada à defesa dos direitos humanos dos imigrantes,
oferecendo orientação jurídica. É do tipo que adora o que faz e, antes da
chegada do filho, Tom, hoje com 1 ano e 4 meses, cumpria a jornada de oito
horas no escritório, mas sempre levava tarefas extras para finalizar em casa.
Na reta final da gravidez, iniciou a licença uma semana antes do parto para
desacelerar e preparar o terreno para a chegada do bebê. Nos quatro meses que
permaneceu em casa, porém, essa mãe de primeira viagem não ficou exclusivamente
em função dos cuidados com o rebento. Seguindo uma tendência de muitas gestantes
de hoje em dia, ela arrumou muita coisa para fazer – e algumas com o bebê a
tiracolo.
Tom
tinha apenas 17 dias de vida quando ela começou a frequentar as animadas
sessões do Cinematerna, que reúne mamães e, às vezes, até papais com seus
bebês, para compartilhar o escurinho do cinema. “A chegada de Tom despertou em
mim algo além da maternidade. Comecei a repensar minha vida e concluí que tinha
muito a fazer”, conta ela. Uma das primeiras providências foi aproveitar o
tempo em casa para colocar em dia a leitura dos textos para o mestrado em
História que cursa na Universidade de São Paulo (USP). “Enquanto Tom dormia,
ficava de olho no iPad, lendo tudo o que precisava”, conta. Também foi uma fase
de redescoberta de prazeres. Além do gás que deu no mestrado, aproveitou para
mergulhar numa atividade que sempre a seduziu, embora não tivesse tido a
oportunidade de se dedicar a ela até então: atuar como DJ. Seguindo os passos
do marido, que trabalha há anos com isso, ela se animou e começou a tocar em
festas.
Segundo
Matilde Berna, diretora da área de gestão e transição de carreiras da
consultoria em RH Right Management, procurar manter-se atualizada é até
benéfico para a retomada do trabalho, depois da licença-maternidade. “Só é
preciso ter cuidado para não perder o foco desse momento tão importante na vida
da mulher, em que a questão principal é fortalecer o vínculo entre mãe e
filho”, explica ela. A turismóloga Flávia Vitorino, 30 anos, casada com o ator
Marco Luque, não perdeu. Fez uma série de atividades com a filha, Isabela, hoje
com quase 2 anos. De cursos de shantala, a tradicional massagem indiana para
bebês, à natação. Mas o que ela e Isadora mais curtiram foram as atividades no
Steps Baby Lounge, um espaço em São Paulo que utiliza aulas de movimento, arte
e música para estimular crianças de 3 meses a 4 anos de idade. "O lugar é
bastante procurado por mães de primeira viagem” observa a gerente, Claudia
Nunes. “Nas aulas, dadas por profissionais especializados, as mães aprendem
sobre o desenvolvimento psicomotor e cognitivo dos filhos. E, principalmente
nas de música, estreitam mais o vínculo com o bebê”, explica ela. “Como cada
grupo reúne seis mães com seus filhos, elas acabam trocando também muitas
experiências”, completa.
Conversando
com as mulheres que fazem as atividades no Steps, Claudia notou que elas se
mostram muito mais confiantes quando chega o momento de retornar ao trabalho.
“Por um lado, sentem-se tranquilas, porque acreditam que a atividade as ajudou
a otimizar a interação com o filho. Por outro, estão mais seguras com o que
aprenderam sobre o desenvolvimento da criança, agora que não ficarão mais com
ela durante todo o dia.” Como a filha nasceu prematura, Flávia confessa que os
primeiros meses foram cheios de preocupação. “A gente fica na paranoia”, diz.
Segundo ela, as atividades feitas com Isadora foram fundamentais para que
pudesse relaxar ao ver que a filha estava se desenvolvendo bem. E isso a
preparou para uma nova etapa na relação das duas. “Chega uma hora em que a
criança precisa de um pouco de independência, e, por sua vez, a mãe sente
necessidade de se dedicar a seus interesses”, conta Flávia. Para ela, a
experiência da maternidade também foi transformadora. Tanto que, ao retomar a
vida profissional, resolveu não voltar para a área de marketing médico, na qual
atuava antes. “Queria uma atividade com horários mais flexíveis, sem aquela
rotina de sair e voltar só à noite. Assim, posso acompanhar o crescimento das
minhas filhas”, conta Flávia, que está no fim de sua segunda gestação, esperando
outra menina. Então, junto com uma amiga, montou um blog de moda.
Múltiplas
tarefas
A
gestação de uma nova carreira durante a licença-maternidade também aconteceu
para Vera Siqueira Turci, 25 anos, mãe de Graziela, 2 anos, e Maurício, 9
meses. Dentista de formação, hoje ela é dona do buffet infantil Buticabeira, em
São Paulo. Quando sua primogênita nasceu, ela precisou se desdobrar entre as
mamadas, o consultório e as obras do novo negócio. “Claro que fiz resguardo de
um mês. Mas quem tem negócio próprio não pode parar de trabalhar por muito mais
tempo”, conta ela. Quando o caçula chegou, o buffet já estava funcionando.
“Fiquei uns 40 dias em casa, adiantando o que podia pelo computador. Depois,
montei um espaço para o bebê no escritório, com bercinho, onde ele fica sob os
cuidados da babá”, explica. Para a empresária Dany Feres, 40 anos, mãe de
Rafael, 4 anos, e Gabriela, 5 meses, depois que os filhos chegam é que a mulher
afia seu pendor por desempenhar múltiplas tarefas. “Parece que a gente aprende
a otimizar mais o tempo”, diz ela. Dona de uma loja de decoração, a Via Flor,
ela também organiza eventos. “Quando a Gabi nasceu, pensei que não conseguiria
mais dar conta de tudo e ainda parar de três em três horas para amamentá-la”,
conta. “Mas já teve dia em que precisei madrugar para comprar flores no Ceasa e
ainda deu tempo de voltar para casa para dar de mamar.” Com uma rotina mais
dinâmica, ela também sentiu a criatividade à flor da pele. Aproveitou a onda
para incrementar os negócios, criando um ateliê de flores para crianças na
loja. Na oficina, ela orienta os pequenos a fazer arranjos de flores naturais
e, no final, cada um leva seu arranjo para casa. “Todos se divertem muito.
Inclusive a Gabi, que acompanha tudo do carrinho”, conta Dany.
Experiências
Sair
de casa e procurar outras atividades também é uma forma de abrir a cabeça para
lidar com os pequenos e grandes desafios que a maternidade nos traz, entende a
consultora Rosangela Alves, 36 anos, mãe de Gabriel, 5, e Heloisa, 3. “Quando o
Gabriel chegou, senti necessidade de buscar apoio. Acabei descobrindo e
participando de vários grupos de mães, que compartilhavam experiências,
dúvidas, soluções. E isso foi muito bom para lidar com minha falta de
experiência”, diz Rosangela. Foi nesses encontros que ouviu falar do Projeto
Acalanto, que faz um trabalho de estimulação musical e de comunicação entre mãe
e bebê. “Trabalhamos com instrumentos como a kalimba, que vibra como a voz
materna, e, principalmente, muito canto, intercalando com momentos de dança”,
explica Isadora Canto, criadora do projeto. “Tudo o que as mães aprendem no
curso podem continuar repetindo em casa com a criança. A ideia é abrir uma
portinha de comunicação e vínculo entre mãe e bebê.” Rosangela resolveu
experimentar o trabalho do Projeto Acalanto na gestação de Heloisa e prosseguiu
quando ela nasceu. Gostou tanto do resultado que acabou entrando para o coral
Materna em Canto, criado por Isadora e formado por 30 mamães e seus filhos.
“Com bebê novinho, a gente fica com medo de sair de casa, pensando que ele vai
chorar muito e incomodar as pessoas. Mas essas saídas mostram que esse medo é
bobagem e abrem um horizonte enorme ao mostrar que não precisamos ficar em casa
trancadas em nosso mundinho. Podemos sair, fazer coisas diferentes, relaxar”,
conta. Na interação com outras mães que, como ela, saem para o mundo com suas
crias desde cedo, Rosangela foi mais uma que aproveitou a licença-maternidade
para empreender e encontrou um filão para explorar. Criou a grife Sampa Sling,
especializada em carregadores de bebê. E também atende mães de primeira viagem
como consultora, para explicar como usar o acessório que prende o bebê ao corpo
da mãe e a libera para sair livre, leve e solta por aí. “Penso que o sling é
uma peça ótima para que as mães aprendam a se virar sozinhas, sem ficar tão
dependentes do carrinho”, diz ela.
Bjinhos,
Raquel
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