Eles oferecem o apoio emocional de que a
criança precisa e até substituem o colo da mãe. Saiba até quando esses
objetos devem fazer parte da vida do pequeno e aprenda a tirá-los de
cena sem traumas
Se está com sono, Yasmin, 18 meses, pede a chupeta. Quando fica ansiosa
porque precisa ir para a escola ou se o irmão menor, Vinícius, 5 meses,
ganha mais atenção, o bico de borracha entra novamente em cena. Todo
esse apego deixa a mãe, a publicitária paulistana Raquel Silveira, 36
anos, preocupada. “Sempre questionei a necessidade desse acessório,
principalmente depois que minha filha cresceu e soube que nem todas as
crianças da classe dela usam”, conta. No meio do ano, Raquel re solveu
esconder a chupeta para tirá-la da vida da filha de uma vez por todas,
com a ideia de deixá-la mais independente. O tiro saiu pela culatra.
“Percebi que, sem ela, Yasmin fica muito mais insegura e manhosa.
Funciona como um apoio”, afirma a mãe.
Casos como o de Raquel são comuns, pois as mães ficam apreensivas ao
notar que o filho criou uma relação de dependência com um objeto. O
problema é que, na afobação de reverter o quadro, acabam tomando medidas
que até prejudicam o desenvolvimento do pequeno. “A ansiedade dos pais
interfere no equilíbrio emocional dos filhos, especialmente dos bebês. A
família precisa entender e aceitar que é normal e saudável a ligação do
bebê com um objeto externo ou mesmo com uma parte do próprio corpo. Ela
acontece por uma necessidade da criança e independe da vontade dos
adultos”, diz a psicóloga Cynthia Boscovich, de São Paulo.
A professora de dança Sonia Asensio, de São Paulo, sabe quanto isso é
verdadeiro. Sua filha, Valentina, 18 meses, nunca deu bola para chupeta
nem se apegou a um brinquedo específico. Mas, ao completar o primeiro
ano, quando a mãe iniciou o desmame, começou a se ligar ao paninho que
cobria a poltrona de amamentação. “Todos os dias, ela o pega, passa no
rosto como se estivesse se acariciando e até dorme com ele”, conta a
mãe. Ela liberou o objeto para a filha sem pensar duas vezes, pois
concluiu que, pelo menos por enquanto, ele está ajudando no processo de
retirada do peito.
Descubra o momento ideal
Mas até quando vai essa ligação? “A partir do segundo ano, muitas
crianças desistem naturalmente desses apegos”, afirma Cynthia. Os sinais
são redução no uso e desinteresse pelo objeto. “Nessa fase, o bebê está
mais maduro e já consegue expressar suas carências de outras maneiras,
comunicando-as em palavras, por exemplo”, explica a psicóloga Isabel
Khan, professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e
vice-presidente da Associação Brasileira de Estudos sobre o Bebê.
É também nessa idade que a maioria das crianças amplia o círculo de
convivência e nota se os amiguinhos e pessoas à sua volta começam a
estranhar o fato de ela ainda usar chupeta ou andar com um paninho a
tiracolo. Isso faz com que ela tome a iniciativa de deixálos de lado. “A
chupeta é o que mais preocupa, pois, a partir do segundo ano, torna-se
prejudicial à formação da face, à respiração, à dentição e à fala”,
alerta a pediatra Raquel Quiles, médica assistente do Instituto da
Criança do Hospital das Clínicas de São Paulo. Mesmo assim,
emocionalmente, não dá para suprimi-la da vida do pequeno de uma hora
para outra. E lembre: nunca faça essa retirada em momentos de
instabilidade da criança ou da família, como a chegada de um irmão, a
entrada na escola, uma mudança de casa, a morte de alguém querido ou
conflito entre os pais.
Desse jeito, não!
Mesmo que seu filho tenha dado sinais de que não quer mais a chupeta ou
o paninho, é preciso conduzir a transição com bom senso. “É errado, por
exemplo, começar a chamar a chupeta de ‘caca’, se até recentemente ela
era oferecida o tempo todo pelos próprios pais”, avisa Raquel. Esse
desligamento deve ser gradual. Do contrário, gera muita ansiedade, pois o
bebê de repente vai se sentir privado do único recurso que conhece para
se acalmar. “Além disso, se ele não estiver realmente pronto para ficar
sem aquele item que oferecia segurança, a tendência é que eleja outro
objeto para transferir seu apego”, alerta Cynthia. Propor trocas e
oferecer recompensas pelo eleito do seu filho também não funciona.
Ricardo, 2 anos, é um exemplo disso. “No Natal passado, combinamos que
eu daria um brinquedo a ele se jogasse a chupeta fora”, conta a mãe, a
farmacêutica carioca Fernanda Mesquita, 32 anos. “No dia 25, pusemos o
acordo em prática e, para sacramentá-lo, meu marido descartou a chupeta
junto com ele”, lembra. “Foi uma festa, mas, quando chegou a hora de
dormir, precisei pegar o carro e correr para uma farmácia 24 horas. Até
hoje o bico de borracha é o amigo inseparável de Ricardo”, diz Fernanda.
A receita que dá certo
Para evitar cenas como essa, faça a retirada gradativamente. “Se o
filho deixa o paninho de lado na hora de dormir, a mãe deve elogiá-lo e
premiá-lo com uma de monstração qualquer de afeto”, ensina a psicóloga
Cecília Zylberstajn, de São Paulo. A compensação é uma linguagem que o
pequeno entende e o ajuda a sentir-se seguro. “O desafio não é retirar o
objeto, mas fazer com que a criança não precise dele”, afirma ela.
Funciona também usar brincadeiras para mudar o foco do pequeno. Por
exemplo, se com 2 anos ele ainda toma mamadeira antes de dormir, que tal
servir dois copos de leite, um para você e outro para ele, e apostar
quem fica com o maior bigode de espuminha?
A economista Paula Soares, 30 anos, de São Paulo, ficou atenta ao
desenvolvimento emocional da filha, Clara, 2 anos, antes de guardar a
gatinha de pelúcia que a menina sempre tinha nos braços. “Até 18 meses,
qualquer coisa era razão para ela agarrar o brinquedo. Aí a Clara entrou
na escolinha e, depois de seis meses, percebi que ela estava empolgada
com o novo ambiente e os amigos”, conta. Foi en tão que Paula e o marido
começaram a desviar a atenção de Clara para outras coisas. “Quando ela
pedia o brinquedo, eu falava da escola e, aos poucos, minha pequena
abandonou o bichinho.” O momento de Clara tinha chegado e tudo fluiu
normalmente... como tem que ser para o filho se sentir seguro e amado.
Comemore os avanços, mas resista à tentação de se desfazer de imediato
da chupeta ou do paninho esgarçado ao qual seu filho se ligou. Mesmo que
ele passe um adeus, chupeta e paninho! bom período sem pedi-los,
guarde-os fora de vista por dois ou três meses. Em situações que causam
angústia ou quando não está suficientemente maduro para se despedir
desses objetos, pode acontecer de o bebê voltar a solicitá-los depois de
um tempo. Significa que eles ainda são uma fonte de segurança
importante para ele.
Se você não consegue consolar o pequeno de outra maneira, restitua o
eleito e prepare-se para tentar novamente dentro de alguns meses. Mas
cuidado: nada de tomar você a iniciativa de oferecer a chupeta de volta
em um momento em que a criança esteja chorosa ou insegura. “Não dá para
transformar o objeto em uma saída fácil para fazer o bebê ficar quieto.
Se o filho choraminga porque quer atenção, o ideal é conversar com ele,
tentar descobrir o que o incomoda e dar o carinho de que ele necessita”,
ensina Isabel.
Sinais de alerta
Em qualquer situação, ficar de olho nos sinais que o filho emite é o
único jeito de saber se o objeto está cumprindo um papel positivo no
desenvolvimento dele ou se é indício de alguma dificuldade. “Um bebê que
lança mão deles o tempo inteiro, mesmo em um momento descontraído, como
quando está brincando, provavelmente sente-se inseguro”, aponta Isabel.
Embora não exista uma idade certa ou errada para tirar esses objetos
queridos de circulação – cada pequeno tem o próprio ritmo –, demoras
excessivas são preocupantes. “Uma criança com mais de 5 anos que ainda
não conseguiu se desfazer da chupeta ou do paninho pode estar com algum
problema mais sério, com ela ou com o ambiente”, diz Isabel. Nesses
casos, um psicólogo infantil pode ajudar.
Para ajudar na despedida
O livro Tchau Chupeta (LeYa Brasil), lançado no Dia das Crianças, é
mais uma criação do projeto Pequeno Cidadão. Ele foi inspirado na música
que Arnaldo Antunes, Edgard Scandurra, Taciana Barros e Antonio Pinto
fizeram para incentivar as crianças a largar a chupeta. Custa 29,90
reais.
Bjs!!!