Aproveitar para comer à vontade ou passar os
nove meses contando calorias, na tentativa de engordar o mínimo? Não se
perca nesse dilema. Veja como traçar o caminho do meio e ganhar apenas
os quilos necessários
"Eu engordei demais"
O caso de Aline, 27 anos:
Peso antes do parto: 58 kg
Peso no final da gravidez: 78 kg
Peso atual: 68 kg
"Quase não tive enjoo. Em compensação, vivia com fome. Sou naturalmente
comilona e achava normal fazer refeições fartas e beliscar a todo
momento. No fundo, acreditava que, se comesse bastante, o bebê cresceria
melhor e eu perderia todo o peso extra, rapidamente, depois do parto.
Afinal, nunca tinha sofrido com essa questão de peso. Para piorar, não
sentia disposição para me exercitar. Aproveitava todo tempo livre para
descansar, o que ajudou a fazer o ponteiro da balança disparar. No
começo, ganhei quase 3 quilos por mês e, em toda consulta, tomava bronca
do médico. Mas, na minha cabeça, a quantidade que eu comia não era
suficiente para explicar aquele aumento de peso absurdo. No último
trimestre, tentei fechar a boca – mesmo assim, terminei a gestação com
20 quilos a mais. Por sorte, o bebê não teve complicações, e o parto
correu bem e no tempo certo. Mas, eu sofri as consequências e senti na
pele, literalmente, os danos do excesso. Apareceram várias estrias.
Quase um ano depois, continuo 10 quilos mais pesada do que antes de
engravidar. Meu peso estacionou e não consigo sair desse estágio. Se
fosse hoje, teria cuidado melhor da alimentação". Aline
Ranelli,designer, mãe de Pedro, 11 meses, de São Paulo.
"Eu ganhei pouco peso"
O caso de Sandra, 30 anos
Peso antes do parto: 57 kg
Peso no final da gravidez: 64 kg
Peso atual: 54 kg
"Sempre fui magra e tenho dificuldade para engordar. Na gravidez, não
foi diferente. Mantive a alimentação regrada de sempre, mas me vigiava
para comer de três em três horas.Também me disciplinei para evitar
besteiras e aumentar o consumo de frutas e verduras. Então, por mais que
eu comesse, continuava na linha. Os enjoos também contribuíram para o
pouco ganho de peso. Até a 16a semana, vomitei o tempo inteiro e não
engordei nenhum grama. Depois, a balança começou a avançar, mas nunca
além de 2 quilos por mês. Assim, cheguei ao final da gestação com apenas
7 quilos extras. As pessoas próximas insistiam para eu comer mais, mas
esses conselhos não me influenciavam. Sabia que não estava fazendo nada
de errado, apenas privilegiando a qualidade à quantidade. Nas consultas
de pré-natal, eu e meu médico conversávamos muito sobre alimentação, mas
ele nunca me fez nenhuma recomendação especial, porque acompanhávamos o
crescimento do bebê pelo ultrassom e estava tudo bem. Tanto que a
Lorena nasceu com 2,9 quilos e no tempo previsto. Em uma semana, perdi
praticamente tudo o que tinha engordado e hoje estou mais magra do que
antes". Sandra Rosa Cunha,advogada, mãe de Lorena, 3 meses, de São
Paulo.
Questões de peso
E você? Será que está engordando na quantidade e na velocidade que
deveria? Antes de colocar a próxima colherada de pudim na boca ou de
pedir um almoço só de alface, confira as respostas dos nossos
especialistas
Qual é o ganho ideal até o final da gestação? “Depende do índice de
massa corporal (IMC) da mulher, antes de engravidar”, diz o obstetra
Julio Bernardi, do Grupo Santa Joana, em São Paulo. Para cada IMC,
existe um ganho ideal, de acordo com uma tabela adotada pelos médicos
brasileiros. Calcule esse índice, dividindo seu peso pré-gestação por
sua altura ao quadrado. Depois, veja quanto deve engordar nos nove
meses:
-
Gestante de baixo peso, com IMC menor do que 18,5: ganho de 12,5 a 18 quilos.
-
Gestante de peso normal, com IMC entre 18,6 e 24,9: ganho de 11,5 a 16 quilos.
-
Gestante com sobrepeso, com IMC entre 25 e 29,9: ganho de 7 a 11 quilos.
-
Gestante obesa, com IMC maior do que 30: ganho de 5 a 9 quilos.
Quanto é preciso comer?
Definitivamente, não precisa se alimentar por dois. Mulheres saudáveis e
com IMC na faixa considerada normal devem ingerir entre 2 mil e 2,5 mil
calorias ao dia. “A partir do terceiro trimestre, quando o ganho de
peso do bebê é maior, recomenda-se adicionar 300 calorias diárias”,
afirma o ginecologista e obstetra Leonardo Valladão de Freitas,da Santa
Casa de Misericórdia de São Paulo. Esse aumento, porém, não justifica
excessos à mesa e se resolve com um lanchinho extra. Anote as opções
sugeridas pela nutricionista Elaine de Pádua, da equipe de pré-natal do
departamento de obstetrícia da Universidade Federal de São Paulo:
• 2 fatias de pão integral + 2 colheres (sopa) de patê de sardinha
• 1 fatia de bolo integral de frutas + 1 copo (250 mililitros) de suco de melão sem açúcar
• 1 taça de salada de frutas+ 1 colher (sopa) de semente de linhaça.
Quando devo ganhar os quilos extras?
Segundo Bernardi, a conta para mulheres na faixa de peso normal é 400
gramas a mais nas dez primeiras semanas + 3,6 quilos até a 20a semana + 4
quilos até a 30a; e os outros 4 quilos que faltam para totalizar 12,
até o final da gestação. Mas, isso é apenas uma referência. Quem vai
avaliar se o ganho de peso foi excessivo ou insuficiente a cada período é
o obstetra. “Só com base em dados objetivos, como a saúde da mãe e o
crescimentodo bebê, é possível dizer se a dieta está adequada ou não.
Além de quanto se come, importa a qualidade das refeições”, completa o
ginecologista e obstetra Flavio Garcia de Oliveira, autor do livro
Receitas para Grávidas
(Ideia & Ação) e diretor da Clínica FGO, em São Paulo. Faz
diferença engordar tudo em um período concentrado? Faz. “O ganho de peso
gradual é a melhor garantia de que o bebê estará adequadamente nutrido,
em todas as etapas do desenvolvimento. Há vantagens também para a
mulher, pois o corpo tem tempo de se adaptar às mudanças. Até o fator
estético é favorecido, já que engordar demais em um curto período
aumenta o risco de estrias”, diz Oliveira.
Por que é perigoso engordar demais?
O ganho excessivo de peso está ligado à maior probabilidade de doenças
graves, como pré-eclâmpsia e diabetes gestacional. “Há perigo também de
que o bebê fique muito grande – acima de 4 quilos. Nessas
circunstâncias, o parto normal torna-se inviável e pode causar
traumatismos à mulher, devido à desproporção entre o bebê e a bacia
dela”, avisa Freitas. Outra complicação é a sobrecarga das articulações
de coluna, quadris, joelhos e tornozelos, que causa dores fortes e se
agrava conforme a gravidez avança. As dificuldades continuam após o
nascimento. “Será bem mais difícil voltar ao peso inicial”, lembra o
nutrólogo Maximo Asinelli, de Curitiba. Sem falar nas consequências
negativas para seu filho. “Crianças com mães obesas ou que ganharam
muito peso na gestação são mais propensas a se tornarem obesas e sofrer
de males como hipertensão, diabetes e problemas cardiovasculares”,
alerta Oliveira.
Se eu fechar a boca, o que pode acontecer?
Fazer loucuras como restringir a dieta a alimentos paupérrimos em
calorias ou dobrar o treino na academia para impedir que a balança
avance é sinônimo de risco para você e seu bebê. De fato, é possível que
você chegue ao fim dos nove meses sem gordurinhas acumuladas. Em
compensação, poderá estar com a imunidade debilitada, músculos flácidos,
ossos, cabelos e unhas enfraquecidos e, talvez, incapacitada de passar
por um parto normal e de amamentar. Também o bebê fica exposto a
prejuízos. Na gestação, ele cresce muito em um curto período e precisa
da energia e dos nutrientes fornecidos pelo organismo materno.“Se esse
fornecimento falha, o bebê não alcança um bom peso gestacional e corre
mais riscos de nascer prematuramente e de desenvolver problemas
neurológicos e cardiovasculares”, explica Oliveira. O bebê não compensa o
baixo peso nos primeiros meses de vida? “Não. A nutrição deficiente na
gestação aumenta os riscos de anemia e infecções na infância, gera
restrições de peso e de altura e afeta odesenvolvimento cognitivo,
levando a problemas de aprendizado e déficit de atenção”, avisa Freitas.
Cuidem-se!!! Bjs!!