sexta-feira, 27 de maio de 2011

Carinho na medida certa.

Abraços, toques delicados, olhares cheios de afeto e atenção verdadeira. Esse é o segredo que vai fazer do bebê um adulto feliz e seguro. Descubra se sua receita de carinho está no ponto.

Carinho protege. A afirmação é de uma pesquisa que avaliou 482 moradores do estado de Rhode Island, nos Estados Unidos, na infância e, depois, aos 38 anos. O estudo, publicado em 2010 pela Duke University, concluiu que a construção de um vínculo afetivo forte com a mãe contribui não só para diminuir o stress da criança como para ajudá-la a desenvolver habilidades para lidar com as pressões da vida adulta. Os pesquisadores verificaram que as crianças cujas mães se mostraram mais afetuosas eram as que apresentavam os menores índices de ansiedade, hostilidade e perturbação geral.

Os resultados batem com os de pesquisas anteriores, que apontam a boa relação com a mãe como essencial ao equilíbrio emocional. “Um bebê que conta com uma mãe disponível, pronta para atender às suas necessidades, desenvolve uma relação de confiança com o mundo. Ele também enfrenta situações de desconforto, mas percebe a mãe como um contraponto, alguém que lhe traz alívio e segurança”, diz a psicanalista Ana Merzel Kernkraut, coordenadora do serviço de psicologia do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. Quer dizer, mesmo que sinta fome, se frustre por não alcançar o brinquedo favorito ou seja tirado do banho no melhor da farra, seu filho terá condições de manter o equilíbrio porque conta com a tranquilidade transmitida por você e suas atitudes.

Vida com mais sabor
Crianças adoçadas com carinho também desenvolvem melhor suas habilidades, mostra o estudo americano. Apresentam uma característica que os psicólogos chamam de resiliência, a capacidade de passar por momentos críticos sem perder o rumo, aproveitando a dificuldade para o crescimento pessoal. E convenhamos: trata-se de um importante aprendizado para a idade adulta, quando as adversidades e os desafios tornam-se mais complexos. Mas não é preciso esperar tanto para provar dos efeitos do seu afeto. As crianças que se sentem amadas desde o berço também saem na frente no que diz respeito ao desenvolvimento motor e intelectual. “No nascimento, o sistema nervoso ainda não completou sua formação, e o carinho que o bebê recebe influencia de maneira direta o processo de conexão entre os neurônios. Quanto mais contato ele tiver com a mãe e quanto mais estímulos receber, mais conexões fará. Consequentemente, mais eficaz será a transmissão de dados entre um neurônio e outro, o que chamamos de sinapse”, explica a pediatra Ana Maria Escobar, do Instituto da Criança de São Paulo.

A cereja do bolo
Quer saber como garantir todos esses benefícios? Tudo depende da sintonia que você estabelece com as necessidades do bebê. “Já existem pesquisas indicando que o bebê é extremamente sensível às emoções maternas. Um recém-nascido amamentado por uma mãe deprimida, por exemplo, manifestará um olhar vago e tenderá a virar o rosto na direção oposta à dela. Já aquele que é amamentado por uma mãe feliz com a situação vai fixar o olhar no rosto dela e até estender a mãozinha para segurar-lhe o dedo. Há inúmeros outros gestos como esses, pelos quais os bebês se comunicam e demonstram sua capacidade de captar a condição afetiva da mãe”, afirma a psicanalista Magaly Miranda Marconato, professora de psicanálise da criança do Instituto Sedes Sapientiae, em São Paulo.

Para identificar o que o filho está pedindo, é preciso observá-lo. “As mães atuais têm múltiplas funções, mas o dia precisa ser planejado de modo a sobrar tempo para os cuidados com a criança. Só a convivência permite conhecer e responder rapidamente aos seus anseios”, diz Magaly. E 15 minutos de bilu-bilu por dia não bastam para criar sintonia. Mesmo que seja para levantar mais cedo ou adiar parte do trabalho para depois que o filho adormecer, tem que pôr a mão na massa, em vez de delegar todos os cuidados.

À sua moda
O segredo é sair do piloto automático e falar com a criança, cantar para ela ou acariciá-la. “Se a mulher não é naturalmente carinhosa, deve pensar em maneiras de expressar o afeto”, sugere a psicanalista Rita Calegari, coordenadora psicossocial do Hospital São Camilo Pompeia, em São Paulo. Ideias? “Não basta trocar a fralda, é preciso estar com o pensamento voltado para aquela atividade e não para a próxima tarefa do dia. A dedicação permite observar o bebê e aproveitar as oportunidades de interação”, ensina Rita. 





Tempero equilibrado
Só tome cuidado para não confundir afeto e atenção com permissividade ou sua receita de carinho desanda. Estar sintonizada com o bebê não significa ficar à mercê dele. “O pequeno precisa experimentar certo nível de frustração, desde que se sinta amparado sempre”, explica Magaly. Em outras palavras, não há problema algum com a criança que chora porque foi impedida de levar um objeto à boca, se você for capaz de dizer “não” de modo firme e suave – se possível, oferecendo-lhe um brinquedo que possa ser mordido. “Mesmo no momento de ensinar o certo e o errado, a mãe deve proceder de maneira afetuosa, sem lançar mão de agressividade ou violência”, diz Magaly.

A habilidade de se mostrar acolhedora, sem superproteger a cria, evita também uma dependência exagerada. “Não é saudável, por exemplo, passar o dia carregando o bebê no colo. Por outro lado, se ele tem um desconforto e precisa de consolo, o colo da mãe é o melhor lugar do mundo”, ensina Ana. O mesmo vale para o choro. Há muito caiu por terra a recomendação de deixar a criança chorando no berço até cansar para não ficar mimada. Hoje, sabe-se que é preciso atendêla de imediato, tentando entender qual é a necessidade dela. Isso não significa ter de pegá-la no colo, mas marcar presença. “A mãe realmente sintonizada com o filho sabe quando é hora de parar, quando o excesso de cuidados deixa de ser saudável”, afirma Magaly.

Xi, desandou!
Depois de um dia exaustivo de trabalho ou depois de muitos minutos tentando consolar uma criança que chora de cólica, ninguém deve se sentir culpada por não se desdobrar em carinhos. “O lema é fazer o melhor que puder na maior parte do tempo. Aquele ideal de mãe perfeita não dá ao bebê algo de que ele vai precisar muito no futuro: a noção de realidade. Na prática, nem tudo sai sempre como nós queremos. Então, na relação entre mãe e filho, também tem de haver espaço para certa flexibilidade”, garante Magaly.

Bjs à todos,


Raquel  do  Valle

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