sábado, 25 de junho de 2011

Momento de ir à escola.

Especialistas defendem a idade de 3 anos como o momento ideal para ingressar no espaço escolar, mas essa decisão depende das possibilidades e das necessidades de cada família.

Antes mesmo de um bebê nascer, muitas escolhas são feitas por ele. O nome, talvez, seja o primeiro item da lista interminável de planos que os pais têm para seus filhos. O que os adultos querem é garantir o bem-estar aos pequenos. Para isso, consomem informações de todos os tipos sobre a primeira infância.

A medicina prega, por exemplo, que diferentes estímulos, desde a mais tenra idade, são fundamentais para que o cérebro humano se desenvolva em todo o seu potencial. A economia contribui com recentes pesquisas. Uma delas diz que crianças que frequentam creches (até 3 anos) e pré-escolas (de 4 a 5 anos) apresentam, na vida adulta, renda mais alta, além de probabilidades mais baixas de prisão, de gravidez precoce e de depender de programas de transferência de rendas do estado.
Na política, a Proposta de Emenda à Constituição, aprovada pelo Senado Federal no fim de 2009, determina que será obrigatória a entrada na pré-escola aos 4 anos. O prazo para as redes de ensino programarem a mudança é 2016.

Nesse contexto, a escola ganha terreno. “Apesar dos estigmas que ainda pesam sobre a creche, decorrentes de sua origem e de seu histórico assistencialista, esse espaço educacional tem se tornado, gradativamente, um serviço imprescindível para o crescimento e o desenvolvimento infantil, incorporado no imaginário social, com o qual as famílias contam, e precisam contar, para compartilhar o cuidado e a educação das crianças”, explica a professora Damaris Maranhão, da Universidade de Santo Amaro, em São Paulo.

Mesmo assim, as famílias ainda têm dúvidas em relação à idade correta de inserção no meio escolar. Especialistas da área acreditam que o momento adequado é com 3 anos, mas que ele está relacionado com as possibilidades e necessidades de cada grupo familiar. Para Beatriz Ferraz, assistente de direção e coordenadora pedagógica da Comunidade Educativa Cedac, em São Paulo, não existe um saber direcionado aos pequenos, até essa idade, que só a escola detenha. “O que pesa na decisão dos pais são as oportunidades que seus filhos terão em casa ou na escola”, conta. “Pode ser brincar com outras crianças ou estar com pessoas que os compreendem e que são formadas para saber quais as experiências mais ricas para serem vividas nessa etapa da vida.”

No comecinho da vida
A partir do 3º mês, o bebê começa a se adaptar ao meio extrauterino. Por isso, é importante que ele fique em casa até o 4º ou 5º mês, que é quando começa a ter o ciclo de sono mais estabelecido e também porque é o tempo necessário para que ele receba as primeiras vacinas. “Além disso, ao lado da mãe, ele terá a possibilidade de estreitar seu vínculo e ter garantido o aleitamento materno”, ressalta Damaris. Com 7 meses, o pequeno passa a reconhecer as pessoas especiais de sua vida e, por isso, estranhará outros rostos, novos ambientes e diferentes vozes. Nesse momento, se ele for para a escola, dará naturalmente mais de trabalho. Também é preciso considerar que, por causa das grandes transformações pelas quais está passando, é possível que adoeça. Somando-se a isso a entrada em um ambiente coletivo, como é a escola, o risco aumenta.
Dentro ou fora de uma instituição escolar, cada um tem o próprio ritmo de desenvolvimento e é importante que esse aspecto seja respeitado. As funções básicas, como dormir, se alimentar, se locomover e se relacionar, variam de um para outro. Nesse caso, é fundamental não comparar o desenvolvimento entre pares.

Também há uma série de desafios e conquistas bastante específicos. “Algumas crianças desenvolvem primeiro a fala, enquanto outras têm mais destreza nos saltos e nas corridas”, afirma André Trindade, psicólogo e psicomotrocista do Núcleo do Movimento, em São Paulo. “Por isso, é um risco quando a escola tem horário para tudo, na rotina – alimentação, sono, aula de movimento etc.” Outro ponto importante é o estabelecimento de vínculo, nessa fase “seja com a avó, a babá ou qualquer pessoa de confiança”, pontua André. No caso da escola, é mais importante ter um educador que sirva de referência para a criança, do que ter uma variedade de especialistas. “As boas creches valorizam esse aspecto e são ótimas opções para os pais.”

Quando o pequeno chega ao seu 3º ano de vida, ele é capaz de abrir mão de seus ritmos próprios para comungar com ritmos sociais. Ele está pronto para se sociabilizar e, portanto, no ponto de ir para a escola (caso ainda não tenha ido). “O que a criança recebe em casa até os 3 anos é o suficiente para ela se constituir, primeiro, como uma unidade”, defende Denise Argolo Estill, psicóloga, psicopedagoga e membro efetivo do Entre Laços – Núcleo de Atenção à Primeira Infância, em São Paulo. Nessa fase, ela também está pronta para inúmeras experimentações, com diferentes materiais, em variadas linguagens. “Ela só recebe esse estímulo maior na Educação Infantil, que é bastante especializada no assunto.”

O que é fundamental
Beatriz conta que, das pesquisas que compararam grupos de crianças que foram mais cedo para escola com outras que ingressaram mais tarde, a variável que mais pesou foi a qualidade do espaço e da proposta da instituição. “Em termos de desenvolvimento cognitivo ou mesmo de socialização, os resultados mostram que não há como determinar o que é melhor. Se elas têm boas experiências na convivência familiar, podem se desenvolver tão bem quanto as que entraram cedo na escola”, explica. “Por outro lado, se elas têm um contexto empobrecido na família, talvez porque os pais trabalham e elas ficam com pessoas que não conseguem dedicar qualidade de tempo para experiências ricas e diversas, terão o desenvolvimento mais restrito, tal como as que foram para instituições de menos qualidade.”

Por isso, em casa ou na escola, até os 3 anos, é importante que as crianças tenham alguns quesitos garantidos, como horário de sono, alimentação saudável e variada, momentos de brincadeira e incentivo à vocalização. “Além disso, o cuidador deve observar a postura do bebê, para saber se ele tem força para engatinhar, rolar, andar, e o olhar, o que dá pistas do nível de interação dele com o mundo”, acrescenta Denise.

Para os pais de crianças que já estão na escola, é importante saber que a instituição escolar não dá conta, plenamente, das necessidades dos pequenos. Por isso, é necessário que a família ofereça a contrapartida em casa. A função da Educação Infantil é compartilhar com os pais a educação. Muitas das coisas que se aprendem em casa são reforçadas na escola, e vice-versa. Sempre, é lógico, levando em conta o contexto de instituição educativa de caráter coletivo. Exemplo: comer em casa com o pai e a mãe é diferente de comer na escola com os colegas.

Procurando uma boa escola?
Para as mães que não têm como opção manter seus filhos em casa até o 3 anos ou só podem ficar com o bebê até o vencimento da licença-maternidade, uma opção é, sim, procurar uma boa escola de Educação Infantil. Para isso, preste atenção em algumas características que a instituição apresentar:

- Diversos espaços
Conheça todos os espaços nos quais as crianças circulam. Nessa etapa da vida, é importante que os pequenos não fiquem restritos a uma sala. É necessário ter, também, um lugar onde eles tomam sol, um espaço de contato com a natureza e um ambiente amplo, com desafios para a locomoção e as conquistas motoras. Além disso, é imprescindível grande diversidade de brinquedos, que favoreçam a vivência de diferentes experiências ricas para esses momentos, como os equipamentos grandes de subir e descer, empurrar, deitar e rolar; os menores, de exploração de sons, texturas e cores; os brinquedos que permitem a interação, ou seja, que convidem a brincar com outra criança; e os que reúnam o grupo para se divertir junto.

- Práticas saudáveis
Logo no início da relação com a escola, é importante que a mãe possa entrar no espaço escolar para fazer a adaptação da criança, de maneira gradativa. Regras de higiene também são essenciais. Observe se o local de troca das crianças tem pia por perto, se os berços estão afastados por, pelo menos, 50 centímetros de distância, uns dos outros e se existe um local para acondicionamento exclusivo de mamadeiras. Por questões de identidade, cada bebê deve ter o próprio berço, com seu cheiro, seus brinquedos e sua roupa de cama. Atente para a segurança e para a adequação do espaço. As louças dos banheiros devem estar à altura dos pequenos.

- Atenção aos menores
Na sala dos bebês, o teto e o chão são referências importantes, pois eles estão tentando se rastejar ou engatinhar, ficam bastante tempo deitados de bruços ou de costas, olhando para o teto. As paredes são igualmente importantes e devem revelar elementos de seu interesse. Ilustrações e fotos com crianças, textos de canções e parlendas são bem-vindos.

- Rotina adequada
Pergunte aos educadores sobre o cotidiano. O que as crianças fazem ao longo do dia? Os momentos de cuidado devem estar intercalados com as experiências de exploração do meio e da relação com o outro. É preciso cuidar da falta ou do excesso de atividades para que haja equilíbrio. Também é importante evitar rotinas em que todas as atividades se concentrrm pela manhã e, à tarde, os pequenos apenas durmam. Nessa fase, os ritmos são diversos. Há crianças que tiram uma soneca maior de manhã e outras à tarde. A rotina precisa ser flexível e valorizar a diversidade.

- Proposta pedagógica
Verifique a formação dos profissionais. Na sala dos pequenos, não deve haver um especialista que cuida e outro que ensina, pois professor é aquele que cuida educando e educa cuidando. No caso de um grupo de alunos maior, é essencial ter a figura do professor-referência, garantindo que o bebê construa, com ele, um vínculo mais pessoal e de confiança, sentindo-se tranquilo e seguro no espaço escolar. Inteirar-se da proposta pedagógica e do currículo da instituição também é importante. Será que a escola valoriza o mesmo que você? Entenda o que a escola pensa sobre autonomia, liberdade, autoria e criatividade infantil. Por fim, pergunte sobre a participação dos pais, os espaços de parceria, como é feito o acompanhamento das crianças e como isso é comunicado à família.

Bjs à todos,

Raquel  do  Valle

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